A arquitetura, em sua essência, tem o poder de moldar espaços que abrigam e influenciam as complexas interações humanas. No contexto da política, essa premissa ganha um significado ainda maior, onde o ambiente construído se torna um ativo catalisador do exercício da cidadania e da prática democrática. Ao conceber a nova Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu, a proposta resgata a origem da política: a necessidade humana do debate, do diálogo e da construção coletiva do bem comum. Acreditamos que a espacialidade pode, e deve, criar cenários que influenciam positivamente o diálogo e a troca. Os ambientes foram cuidadosamente dispostos para promover a casualidade dos encontros nos corredores, a fluidez das discussões em plenário e a acessibilidade visual e física dos cidadãos aos seus representantes. Cada elemento de design – desde a disposição dos assentos e a flexibilidade dos espaços até a transparência das fachadas e a integração com o entorno urbano – foi planejado para quebrar barreiras invisíveis, incentivar a escuta ativa e gerar um ambiente de diversidade de pensamento. Assim, a nova Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu transcende o papel de um mero edifício, aspirando a ser um organismo vivo que pulsa com o ritmo democrático da cidade, um convite à conversação, à co-criação e à afirmação da vitalidade democrática.
A proposta se organiza em quatro núcleos distintos que se relacionam de forma controlada e harmoniosa, dispostos ao redor de uma projeção de uma futura praça centralizada no terreno. Implantada na porção mais elevada, a edificação principal concentra os usos da Câmara, acoplados para criar um conjunto racional, eficiente e convidativo.
O Setor Comum, que abriga o plenário, foyer, salas de reuniões, recepção e ouvidoria, é estrategicamente posicionado em aproximação à rua. Este núcleo público não só estimula a participação ativa da sociedade, como também centraliza os usos mais importantes e irrestritos ao público, funcionando ainda como o principal ponto de controle de acesso aos setores mais privativos. Ao redor deste eixo vital, os Setores Técnico, de Apoio e Político se organizam de forma integrada, formando um arranjo em "U" que abraça o setor comum. Essa disposição garante uma relação orgânica e eficiente entre os diversos programas — desde os serviços essenciais para o funcionamento da Câmara e os ambientes de suporte até os gabinetes e diretorias dos vereadores — estabelecendo uma clara hierarquia de privacidade e fluxos.
A interconexão entre esses setores é mediada por um corredor coberto externo que se desdobra ao redor de um pátio interno natural. Mais do que um elemento funcional, este percurso é concebido como um espaço de transição, contemplação e encontro, promovendo a integração contínua com a paisagem, incentivando a interação informal e enriquecendo o diálogo. As conexões na parte alta se dão por passarelas externas que promovem o contato direto com o entorno e as pessoas.
A concepção construtiva da proposta prioriza a eficiência, a racionalidade e a viabilidade orçamentária, sem renunciar à expressividade arquitetônica e à conexão com o contexto local. Para os setores em "U", que abraçam o núcleo comum, priorizou-se a utilização de aproximadamente 70% de estruturas pré-moldadas de concreto, compostas por pórticos de vigas e pilares, complementadas por lajes alveolares. Essa escolha agiliza o processo construtivo, otimiza recursos, garante alta qualidade e precisão, e minimiza o desperdício, além de conferir uma modulação clara e flexibilidade interna para futuras adaptações. Os corredores cobertos, elementos articuladores do conjunto, são protegidos por uma leve estrutura metálica (15% da estrutura total), pintada em um tom que evoca o barro fértil da região, estabelecendo uma conexão cromática sutil com a paisagem.
Para o Setor Comum, que exige grandes vãos livres para o plenário, a cobertura é solucionada por telhas pré-moldadas tipo "W", conferindo elegância e eficiência estrutural. O foyer, ponto de acolhimento público, recebe um tratamento material diferenciado com piso e parte das paredes revestidos em basalto, aplicado em tiras regulares de diferentes tamanhos. A escolha do basalto não é apenas estética, ele é um material localmente abundante e amplamente utilizado, conferindo durabilidade, sobriedade e uma forte identidade regional ao espaço.
Na fachada principal, uma trama de tirantes metálicos se eleva, configurando um elemento de proteção solar que transcende sua função prática. Essa estrutura filtra a luz, criando um jogo dinâmico de sombras e luminosidade que, ao longo do dia, remete poeticamente ao movimento constante e majestoso das águas das Cataratas do Iguaçu. As divisórias das salas nos setores em "U" são predominantemente de vidro, concebendo "aquários" de transparência que promovem a visibilidade e a permeabilidade, estabelecendo uma relação direta e convidativa entre os espaços de trabalho e o corredor externo, que por sua vez se abre para a natureza e o pátio interno.
Na fachada principal, uma trama de tirantes metálicos se eleva, configurando um elemento de proteção solar que transcende sua função prática. Essa estrutura filtra a luz, criando um jogo dinâmico de sombras e luminosidade que, ao longo do dia, remete poeticamente ao movimento constante e majestoso das águas das Cataratas do Iguaçu. As divisórias das salas nos setores em "U" são predominantemente de vidro, concebendo "aquários" de transparência que promovem a visibilidade e a permeabilidade, estabelecendo uma relação direta e convidativa entre os espaços de trabalho e o corredor externo, que por sua vez se abre para a natureza e o pátio interno.
Distinta dos demais, a edificação destinada ao Setor Anexo – uma edícula para eventos externos – é propositalmente deslocada do corpo principal, na parte mais baixa do terreno, com entrada independente e privativa. Essa separação estratégica assegura a privacidade e a flexibilidade necessárias para suas atividades, evitando interferências no fluxo diário da Câmara. O Estacionamento, por sua vez, encontra-se discretamente posicionado e camuflado nos fundos do terreno, assegurando acessibilidade e funcionalidade sem comprometer a estética e a permeabilidade visual do projeto. O acesso de veículos e serviços ocorre pela parte alta do terreno em via única, com saída na parte baixa.
Esses setores recebem uma cobertura de malha metálica que protege pedestres e veículos, e permite a futura instalação de placas fotovoltaicas. Essa malha cria um eixo que se estende até a entrada de serviços aos fundos dos setores restritos, conectando-se diretamente com a praça no miolo do terreno. A edícula do anexo segue a lógica dos sistemas pré-moldados, integrando-se diretamente à vegetação existente.
Concurso Público para Nova Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, 2025.
Projeto: Palma Arquitetura, Habla Estudio e Dimensão 20
Localização: Foz do Iguaçu, PR
Imagens: Eduardo Possamai
Equipe: Eduardo, Ana, Karine, Lucas, Vanessa e Vagner.